Vestir fantasias infantil é bom ou ruim?

Socorro, minha filha (o) vive de fantasia, o que fazer?
A atitude é esperada pelos especialistas porque é nessa fase que elas começam a ter consciência de seu pequeno tamanho e fragilidade. "Como a criança mistura realidade com fantasia, pensar que tem a força de um super-herói ou conseguir enfrentar bruxas malvadas como as princesas ajuda a desenvolver a personalidade e enfrentar os pequenos desafios do dia-a-dia", explica Cristina Seguim, psicanalista do grupo Materne, uma clínica multidisciplinar de atendimento à infância, com sede em São Paulo. Segundo ela, a fantasia fortalece o ego infantil. Às vezes, não é necessário ser o kit completo, apenas uma capa. E não se preocupe se a idéia de se fantasiar for freqüente. Nessa faixa etária, isso é normal. Já uma criança com mais de 7 anos, que ainda é muito ligada em fantasias, pode sinalizar problemas com a própria identidade.

 A pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, professora e coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar e da Educação Infantil da PUC-SP, afirma que as fantasias e os espaços fantásticos criados pela criança são bastante cabíveis entre dois e cinco anos, com variações de acordo com o desenvolvimento da criança. 
 
Criar um mundo de fantasia é importante para a criança aprender a se relacionar com o mundo real. Para a psicóloga Ceres de Araújo, especialista em crianças e adolescentes, a fantasia é uma forma de compensação da fragilidade, seja ela uma roupa de princesa ou de super-herói.

O gosto pelas fantasias de super-heróis e princesas é típico da pré-escola e começa a se esvanecer na entrada no Ensino Fundamental. “A criança acaba entendendo as situações em que deve ficar sem a fantasia e, com o tempo, acaba deixando-a de lado”, diz Maria Ângela, pedagoga.

Mas os pais podem respeitar os momentos da vida da criança, acompanhando-a na transição do imaginário para o real. Se a criança não quer tirar a fantasia de Homem Morcego nem para tomar banho, Ana Felice sugere aos pais entrarem na brincadeira. Eles podem dizer ao “Batman” que estão com saudade do filho e querem brincar de vida real.

Quando a criança não quer tirar a fantasia para dormir, os pais podem comprar pijamas com desenhos do personagem ou fazer uma camiseta para dormir com o objetivo de que a criança continue fantasiando. “As crianças são facilmente convencidas, só é preciso ter criatividade. Cortar a fantasia dela é que não vale”, diz Ceres. 

Um menino vestir-se de Branca de Neve e uma menina de Super-Homem, ao contrário do que muitos pais pensam, não é um problema. “Muitas famílias ficam preocupadas com a fantasia de heróis do sexo oposto, mas não é por isso que o filho será gay”, diz a pedagoga Maria Ângela. 
 

Lado bom do uso da fantasia

O vestido da Cinderela, a máscara do Homem-Aranha, a varinha da Fada Madrinha ou um simples pano transformado em capa. Tudo é válido quando a criança entra no mundo do faz de conta. Entre os 2 e 5 anos, prepare-se para os pedidos frequentes: eles querem se fantasiar! Na escola, nas festas, no restaurante e em casa. E isso é muito bom. A fantasia, de certa forma, fortalece o ego infantil.

Além de divertir e incentivar a criatividade, a criança tem a chance de se sentir diferente, de experimentar outras linguagens, de incorporar personagens e suas habilidades. E com isso enfrentar obstáculos e medos e resolver conflitos internos e externos. Ela se sente mais forte, segura e pode ter a coragem de expressar melhor seus sentimentos. Ao usar uma fantasia de bruxa, por exemplo, poderá assumir uma agressividade que estava contida pela culpa.

“Esse mundo mágico entra em cena justamente no momento em que enfrentar a realidade é, muitas vezes, difícil. É muito mais fácil projetar sentimentos em super-heróis, bruxas e todo tipo de personagem. Essa fase é normal e importante, pois auxilia a criança a lidar com situações do dia a dia de forma positiva para o seu desenvolvimento”, diz Ricardo Halpern, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Aproveite esse tipo de atividade para observar seu filho e aprender mais sobre ele. Muitas vezes, o personagem escolhido e suas ações no decorrer da brincadeira demonstram o que a criança é e o que está sentido. E, para possibilitar essa chance a ela, não é preciso nada muito elaborado. “Um lenço na cabeça já é válido. Não é necessário comprar todas as fantasias que a criança quer.

O consumismo exagerado pode se tornar um problema”, alerta Renata Americano, coordenadora geral do Fundamental 1 (de 2º a 5º ano), da Escola Viva, em São Paulo. Os pais podem oferecer opções, deixar um caixa com chapéus, perucas, tecidos coloridos, por exemplo. Mas não precisam incentivar o consumo das fantasias industrializadas – a própria criança se encarregará de requisitá-las. Coloque um limite ou você terá toda a liga de superamigos no guarda-roupa do seu filho. “Os adultos, às vezes, até preferem a fantasia pronta porque a conhecem, sabem sua história e suas características. Uma fantasia que a criança cria sai do controle, não tem roteiro e isso angustia os pais”, diz a coordenadora Renata.

Quando a criança não mostra interesse em fantasias, isso aponta para certa rigidez, incomum em uma fase tão própria para o faz de conta. Pode ser o caso de os pais incentivarem, brincarem junto e até procurarem ajuda especializada. “Mas a fantasia deve ser escolhida com a participação da criança, observando seus gostos e interesses.

O personagem deve ter um traço de identificação porque, assim, torna-se um brinquedo dotado de valor afetivo e simbólico”, ensina Maria Cecília Souza Biglia, psicanalista da Clínica Agrupar – Infância, Adolescência e Família, em Salvador (BA) e fundadora do Coisário Ateliê – Brinquedos, Fantasias e Oficinas Brincantes.


Lado mau do uso da fantasia

O lado mau da fantasia é justamente o exagero no que ela tem de melhor: na possibilidade que a criança tem de enfrentar seus medos. Seu filho não pode deixar de entrar em contato com o mundo real. Ir vestido de Batman no primeiro dia de aula é saudável. Mas repetir a fantasia em todos os demais dias da semana, não. “É o João e não sempre o personagem que vai à escola”, diz a coordenadora Renata. “Os pais precisam dosar o tempo de permanência com a fantasia.”

Quando a criança assume totalmente as características de uma personagem, os adultos também devem ficar atentos. Não é comum, mas pode acontecer. “Quando não há nenhuma distinção entre um e outro, a situação deixa de ser faz de conta para se tornar literal! Se isso acontecer de um modo muito contundente, necessitará de atenção ou até de uma avaliação especializada. Em geral, os pequenos sabem muito bem diferenciar o real da fantasia, apesar de a imaginação infantil ser tão fértil”, diz a psicanalista Maria Cecília.

Outra situação perigosa é quando a criança acredita que tem os poderes do herói. São comuns os episódios em que o pequeno, munido de capa e espada, tenta voar. Também ficou famoso o caso de um garoto que tirou o irmão do berço, com a casa em chamas. Mas nem sempre o final da história é feliz. Por isso, é importante ter alguém sempre olhando as crianças menores em suas atividades e observar o quanto as mais velhas compreendem a situação.

“O ideal é que, com 4 ou 5 anos, elas já saibam separar bem a realidade da fantasia”, diz a coordenadora Renata. “Algumas fantasias de super-heróis contêm, inclusive, uma etiqueta de advertência, esclarecendo que a capa não permite voar. É um bom mote para conversar com as crianças sobre esse limite, inclusive lembrando que até o Super-Homem é abalado pela kriptonita, ou seja, nem ele escapa de ter fragilidades e pontos fracos”, diz a psicanalista Maria Cecília.

Aos 4, 5 anos, é comum o uso da fantasia diminuir. Os pedidos para vesti-la ficam espaçados porque os interesses mudam. As crianças estão desenvolvendo a lógica do pensamento concreto e começam a substituir a fantasia pela realidade. E em sua vida social já não “fica tão bem” usá-la. O traje acaba sendo procurado apenas para a diversão. Quando, nessa idade, a criança ainda quer usar a fantasia com frequência, é necessário investigar suas razões, seu contexto de vida e observar se a realidade não está pesada demais para sua fase de desenvolvimento.



Fonte:
http://delas.ig.com.br/filhos/ate-que-idade-e-normal-usar-fantasia/n1597410790987.html
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI14801-15131,00.html
http://bebe.abril.com.br/materia/vestir-fantasias-infantis-e-bom-ou-ruim

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