Como foi voltar ao trabalho depois de cuidar dos filhos em tempo integral.

Depoimento de Mãe:

Essa é uma amiga, Ana Teresa, tem 2 filhos o pedro de 3 anos e a Valentina de 7meses.

Aqui ela abre o coração e conta como foi voltar a trabalhar depois de ficar tanto tempo realmente cuidando dos filhos.

"Hoje voltei a trabalhar depois de 7 meses (6 meses de licença pelo nascimento da Valentina + 1 mês de férias) em que eu pude desfrutar intensamente da presença dos meus filhos. Nesse período resolvi tirar o Pedro da escolinha integral e passei a deixá-lo apenas das 14h00 às 17h30. Além disso, foram 3 meses sem aula, o que significa que quase a metade desse tempo eu fiquei com os meus 2 filhos o dia inteiro. Como os dias sempre me pareceram bastante longos, pois cabia muitos "afazeres" e muitos "tiques" nas minhas listinhas intermináveis de coisas pra fazer, eu pensava que não teria imaginação suficiente para inventar atividades para entreter o Pedro nos intervalos entre as mamadas e trocas de fraldas da Valentina. 

Foi quando percebi que eu ocupava a maior parte do dia apenas com os cuidados básicos das crianças - comer, tomar banho, escovar os dentes, trocar de roupa, ir ao banheiro, dormir. Isso porque para o Pedro cada uma dessas tarefas nunca são só o que parecem ser. Para tomar o café da manhã tinha que se proteger do lobo que estava embaixo da mesa, desviar da borboleta para tomar o leite, oferecer o pãozinho para o macaco, atirar na raposa, prender um urso... e lá se foi 1h só tomando um leitinho e comendo um pãozinho. Depois, era hora de escovar os dentes. Sempre tem que compartilhar as tarefas. "Mamãe, primeiro eu depois você" e lá ia ele escovar os dentes enquanto descrevia o trenzinho subindo e descendo no trilho (movimento da escova nos dentes de traz) e fazendo o "suja espelho" pra limpar a parte de traz dos dentes da frente...mais uma tarefa simples que "consumia" preciosos 30 minutos. Aí, estava na hora de trocar de roupa, mas antes tinha que escolher a roupa do personagem do dia, ele tentando se vesti sozinho e sempre fazendo graça, colocando a cueca na cabeça, pulando da cama no chão enquanto veste a bermuda, mudando intermináveis vezes o lado da camiseta até acertar a cabeça no buraco certo... mais 30 min. 

E, a essa altura, a Valentina que acompanhava cada movimento do Pedro, já começava a dar indícios de que já estava na hora de mais uma mamada. Tínhamos também que tomar o banho da manhã antes do soninho. Enquanto isso, o Pedro também dava banho na Valentina dele, e também no pato, no sapo, na libélula, no pelicano...Enfim, vamos brincar! Eu nem precisava me preocupar em propor algo, pois as idéias deles eram sempre melhores "mamãe, tive uma ideia! Que tal se a gente escalasse aquela montanha ali pra chegar na floresta onde mora o Robin Hood e atirar flechas no rei joão? o que acha?" E, no meio da brincadeira, vinha a vontade de fazer cocô "mamãe, fica comigo? Me conta aquela história da velhinha que quebrou o braço, lê o livrinho do leão, depois o da vaca, e o do cachorro, o da baleia... e lê de novo todos os livrinhos disponíveis no banheiro até terminar e autorizar limpar o bumbum. Mais uns 40 min e já estava a hora do almoço. 




Vamos comer? Mais 1h30 para comer tudo enquanto conta algum fato que aconteceu na escolinha, que a amiguinha gosta de comer papel, que o coleguinha não divide o bolinho do bob esponja, que sabe comer o macarrão enrolando o garfo, que quer mais beterraba, que está forte, e tudo isso cantando a musiquinha da formiguinha que enlouqueceu com a dor de cabeça que lhe deu, e sempre lembrando que não pode falar com a boca cheia que é muito feio. Valentina acordou! Vamos dar uma voltinha? (depois de repetir o ritual da escovação de dentes, é claro!) Troca a Valentina, passa protetor solar em todo mundo, coloca o boné, procura o chinelo que não machuca o pé e vamos procurar o patinho , o gatinho, a coruja, o cachorrão bravo, o tucano, o maracujá, o macaco danado, a fruta diferente que a gente não sabe o nome, a acerola, a borboleta, a pedra que enche os bolsos da bermuda pra fazer comidinha pra Ximbica mais tarde, verificar se a goiabinha já cresceu, conversar com o vizinho, cumprimentar todos os pedreiros de todas as obras ...mais 1h30 para uma singela voltinha no quarteirão. 

Nossa! Já são 15h30!! Vamos tomar água, dar mamá pra Valentina e trocar a sua fralda enquanto o Pedro descansa no almofadão comendo sua maça e assistindo pela milésima vez o desenho do Robin Hood cantarolando todas as musicas até adormecer. Eba Valentina! Vamos bater palminhas, rodopiar de um lado para o outro, ficar de joelhos, imitar os barulhos estranhos que a mamãe faz com a boca, brincar de serra-serra, de achou, puxar a bochecha de Ximbica, pegar tudo e bater com toda força do mundo no chão, passar de uma mão para outra, jogar longe e se jogar no chão tentando pegar? Olha! O Pedro acordou! Hora de todo mundo brincar junto com alguns brinquedos no chão. Nossa! Papai já chegou! Isso significa que é hora de tomar banho enquanto o papai prepara o jantar. 

Ah,o banho! Minha hora favorita! (Aqui vale muito esse parentese. Antes de ter filhos eu sempre desfrutei do banho como um momento de prazer, de contato comigo mesma, de relaxamento, o que depois dos filhos nunca mais aconteceu! Intimidade? O que é isso? Eu não sei, só sei que o banho acompanhado desses serzinhos é muuuuuito mais gostoso!) O banho nunca foi um banho assim como o chuveiro nunca foi chuveiro e sim cachoeira, a bucha rolo de tinta pra pintar o box que virou parede...) "Hum! que cheiro bom! Tô com fome papai" e lá ia o Pedro jantar com o papai enquanto eu ia dar o banho só de agua pra relaxar a Valentina antes da ultima mamada pra dormir. "Pedro, já são 20h00, vamos colocar o pijama, escovar os dentes e dormir (vocês já sabem que essa parte durou uns 40 min) e "mamãe, conta uma historinha de livro e outra de boca pra eu dormir?" E, durante as historinhas (assim como durante o dia todo) uma sequência de porquês intermináveis "por que escureceu? por que ele está de olho fechado? Por que a gente cansa? Por que chove? O trovão é chato, n´? Eu não goso de trovão!"... 

Ufa! 21h00. E eu me pegava pensando - E agora? O que eu vou fazer? Nossa! Não fiz nada da listinha! Nem sequer dei uma olhadinha no face, nos emails... o dia passou tão rápido! O que eu fiz?" Houve momentos em que eu me peguei reclamando em pensamento o quanto o Pedro era "custoso", cada tarefa era um custo! Mas aí chegou o momento de voltar as aulas, há duas semanas e eu comecei a ver oLeonardo Batbuta acordando o Pedro pra levar pra escola dizendo o famigerado "Anda logo". Isso já me foi suficiente para cortar o coração... eu eu pensava - "Como vou conseguir tempo pra trabalhar?" Nesse período tive a dolorosa descoberta de que até então não conhecia verdadeiramente o Pedro. 

Nós mães de final de semana não temos a oportunidade rara de conhecer e acompanhar o rico crescimento e desenvolvimento dos nossos próprios filhos. Como disse minha amiga Juliana Agatte, tem algo de muito errado e fora do lugar nisso tudo. "O mundo está ao contrário e ninguém reparou!" Conversando com uma colega do trabalho que tem um filho comidade muito próxima ao do Pedro, ela me perguntou se voltar ao trabalho pela segunda vez é mais fácil. Não. Pra mim está sendo muito mais difícil, e eu tive que dizer a ela o porquê. Simplesmente porque agora sei o que eu vou perder em não conviver mais tão intensamente não só com o Pedro, mas agora também com a Valentina. Sim, a dor agora é em dobro."

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